Ano Novo – Rumo ao interior

Podia passar o Ano em Luanda, mas pagar de 100 a 300 dólares para ir a uma festa, em discoteca comemorar o ano novo me dói demais. Ainda por cima com gente que eu não conheço. Poderia também ficar em casa, e assistir o ano novo pela Globo.
Decidi viajar para Dondo, na província de Cuanza Norte. São 3 a 4 horas de viagem, saindo da Província de Luanda, passando pela província de Benguela, e chegando finalmente a Dondo.
Não tenho idéia do que vou encontrar, mas irei munido de máquina fotográfica para dividir com vocês as imagens desta nova aventura!

Feliz Ano Novo!
Que 2007 seja cheio de paz e alegria!

Fome de leitura

Nesta minha estadia angolana, há muito pouco a se fazer fora do escritório. Eu ainda dependo de motoristas para me locomover, visto que ainda não tenho uma carteira de motorista angolana. E mesmo que tivesse a carteira de motorista eu ainda assim não é que tenha muitas opções, vistos os preços absurdos de tudo. Claro, preços absurdos cobrados aos estrangeiros, mas não me sinto ainda confortável em entrar em um botequim angolano e pedir uma média com pão e manteiga, se é que vocês me entendem. E ainda mais morando fora de Luanda, no município de Cacuaco, onde às 21:00 todas as pessoas de bem já estão dormindo e roncando. Depois do escritório é só tédio e ócio.
Já havia intuido que isso aconteceria antes de sair do Brasil. Levei para o aeroporto uma coleção de Machado de Assis, que me teria feito ótima companhia, mas a TAAG implicou com o peso da bagagem de mão e os livros foram sacrificados. Sendo assim, após o check-in, entrei em uma lojinha e comprei dois livros: Elite da Tropa e Raízes do Brasil.
Elite da tropa devorei em 5 dias. Interessantíssimo o livro! Vale a pena. E Raízes do Brasil também foi embora com certa rapidez. Fiquei sem o que ler em menos de 20 dias. Que agonia! Precisava achar uma livraria!
Numa tarde mais tranquila, Tony, meu motorista, me levou ao centro da cidade, atrás da Marginal (uma vaga lembrança da avenida Atlãntica, para situar vocês), na livraria Lello. A livraria, de fora uma loja grande, era escura e empoeirada, trazia o cheiro de outros tempos. Não havia muita escolha, algumas prateleiras cheias, algumas com livros americanos traduzidos em poruguês luso, outros tantos livros uinversitários (inclusive o Samuelson, caros economistas!), uma coleção de Jorge Amado, alguns clássicos portugueses, os livros de Dan Brown e uns poucos autores contemporãneos. Não achei nada sobre a história de Angola, sobre a cultura angolana, sobre a culinária daqui, nada… No máximo alguns livros de turismo sobre a África. Sabe quando você está seco para tomar café, e quando consegue uma xícara de café ele vem ralo como água suja? Posso dizer que me senti assim nauela livraria…
Acabei por comprar um clássico português, “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queiroz e um livro do também português António Lobo Natunes, com o título “DÂ’este viver aqui nesta papel descripto – Cartas da Guerra”, que é a correspondência entre o autor e sua espoas, nos anos de 1970/1971, quando o autor servia no exército português em Angola, durante a guerra colonial. Parece bem interessante. Vou conhecer um pouco de Angola pelos olhos de um português que nunca antes tinha pensado em sair de Portugal e se aventurar na colônia, mas recutado para uma guerra por um governo ditatorial…
Como sempre faço, pedi desconto pelos livros, que custam um absurdo por estes lados! Não consegui desconto, mas saí com um “brinde”, um livro grátis! Assim que conseguir escaneio a primeira página do livro, que nada mais é que um conjunto de contos iraquianos de amor, de autor anônimo, mas atribuídos a ninguém mais, ninguém menos que o falecido Saddam Hussein! Por essa nem eu esperava!

A ilha de Luanda

No domingo de natal, fiz uma rápida visita à ilha de Luanda. Passamos de carro e voltamos para o residence, mas pude ter uma idéia do que é a ilha.
Antes de tudo é preciso explicar que a ilha não é uma ilha. Quando os Portugueses chegaram a Luanda, encontraram a Baía de Luanda, que tem um quê de parecido com a Baia de guanabara, apesar de menor. Durante o período de colônia, foi criada artificialmente uma “ilha”, separada de Luanda por uma pequena ponte. Hoje o canal abaixo da ponte assoreou, e na verdade o que há é uma “restinga” de Luanda.
Imagine que o Rio ficasse sem nenhuma conservação por 30 anos. Ruas esburacadas, desordem urbanas, favelas nas areias das praias, construções irregulares dentro de parques públicos… Com esta imagem na cabeça, podemos começar a entender a situação atual de Luanda, e a ilha não é diferente.
Apesar da ilha ser o “point” dos luandenses de dinheiro, e muitos expatriados, está muito longe de ter uma infra-estrutura de primeiro mundo. Gasta-se em média 200 a 300 dólares por noite em boates na ilha. Há carros de valores de centenas de milhares de dólares circulando pela ilha. Mas ao mesmo tempo a “praia” foi invada em vários pontos por barracos, o parque da cidade, um bosque no meio da ilha, perdeu as grades, e em meio às árvores, várias pequenas construções de madeira surgiram, com famílias enormes morando nelas. A pobreza, maior que em muitas favelas, transportadas para as areias da praia, ao lado das boates mais caras.
Ouço dizer das pessoas que as coisas estão melhores hoje que no tempo da guerra, que agora a ilha está ganhando de volta o brilho de outrora, com construções novas de clínicas, casas de luxo, hotéis e prédios de apartamentos. Realmente nota-se que não só a ilha, mas toda Luanda está se reconstruindo, regenerando das cicatrizes da guerra de 30 anos. Mas há uma grande parcela da população excluída que parece ser os quelóides das cicatrizes, quelóides que não deixam que se esqueça que eles ainda precisam ser incluídos neste novo país que Angola aspira ems ser, um novo Dubai da áfrica subsaariana.
E no meio deste mistura, deste contraste, entre os esnobes muito ricos, e os pobres maltrapilhos, caio eu, e me parece que Luanda é como se fizéssemos um extrato do Rio de Janeiro, picássemos o que sobrou e puséssemos os pedaços em um saco, embolando tudo, e os jogássemos desordandos em um tabuleiro, trazendo pedaços de Caxias ao Leblon, de Ipanema no Borel, das Paineiras no Praça Mauá. E no meio da ilha de Luanda, surgisse um BobÂ’s. Isso mesmo. Há um BobÂ’s na ilha de Luanda. Mas esta vou contar depois!

PS: Fico muito agradecido pelas visitas, que estão sempre aumentando, desde que cheguei em Angola e desejo a todos um ótimo ano novo! Aos amigos do Rio, em especial, abracem a cidade maravilhosa de coração, mesmo com as confusões que tem acontecido. Não se deixem abater!

Bonecas Angolanas

Desde que cheguei aqui, encontrei um movimento estranho no Residence. Uma série de caminhões chegavam, muitas vezes tarde da noite, e descarregavam caixas e mais caixas em um depósito dentro do hotel. Como não queria sarna para me coçar, eu não perguntei nada a ninguém, mas fiquei com a pulga atrás da orelha. O que seria aquilo, afinal? Coisa boa não parecia… Chegavam sempre no meio da noite, lá pelas 21:00, decarregavam caixas e mais caixas. Foi assim desde que cheguei, mas semana passada o movimento se inverteu.
Agora as caixas escoavam do Hotel para caminhões, com destino desconhecido. Dizem que quando não se tem nada para fazer pensamos sempre bobagem. Pois depois do trabalho, naquele hotel, não tem nada para fazer… E eu vendo as caixas indo embora…
Uma noite, curioso, como quem não quer nada, me cheguei para os lados de onde saiam as caixas. Na porta do depósito havia uma brecha, e mesmo estando escuro, olhei de relance e levei um susto! Eram caixas de bonecas! Bonecas de plástico, grandes, negras, com um sorriso na cara! O que diabos este trafico de bonecas significava eu não sabia, mas agora eu ao menos sabia que o que entrava e saía eram bonecas… Será que haveria alguma coisa estranha dentro delas?
Fiquei ressabiado, mas fiquei quieto. Na África há uma quantidade enorme de fraudes, contrabando e esquemas ilícitos, e eu não tenho nada com isso. Podiam estar traficando cocaína, diamantes, sei lá o que! Mas no dia 23 tudo se esclareceu…
Era sábado, e por isso fomos para o Residence mais cedo. Sentei na beira da piscina, perto da gerente, que conversava com um dos funcionários, exatamente sobre as bonecas. E vi que eu estava mesmo era fantansiando… A dona do Residence é uma jornalista famosa em Angola. Está todo dia na TPA, o canal de televisão estatal. Uma Fátima Bernardes daqui. Como não é boba nem nada, resolveu tirar partido da fama e encomendou, do Brasil, alguns containers de bonecas feitas à sua feição, e contratou uns ambulantes para vender a dita cuja pro Natal. A boneca da dona virou uma febre de consumo entre a classe média de Luanda, e as bonecas saíram que nem água… Tanto que no dia 23, tinha gente pagando quase 100 dólares por cada uma…
Cabeça vazia, casa do capeta, já diziam os antigos!

Complexo B

Desde que cheguei aqui, o que realmente me impressionou foi a quantidade de mosquitos. Malária e Febre Amarela são doenças comuns mesmo na capital, Luanda. Devido aos 30 anos de guerra, uma enorme favela de refugiados surgiu nos contornos da cidade. Para dizer a verdade, parece até que a cidade em si, como conhecemos nós uma cidade, com asfalto, casas de alvenaria e prédios, é um pequeno cisto em meio a uma favela gigante. Um dia ainda confirmo isto olhando de cima ou via Google Earth…Imaginem como é propício para a disseminação de doenças, e do mosquito em particular, em ambiente tão insalubre.
Antes de partir, me deram uma dica fenomenal. Vitamina B espanta os mosquitos daqui. Comecei a tomar complexo B uns dias antes de partir e desde que cheguei NENHUM mosquito me picou. Os italianos ficam loucos, porque os mosquitos lhes atacam com ferocidade ímpar, sangue novo no pedaço! Eu contei a todos o truque da vitamina B, mas me olharam com desdém, achando que era papo pra boi dormir.
Um deles, porém, o “angolano”, de quem contei a estória do assalto uns dias atrás, resolveu tentar. Combinamos, que no caminho para o trabalho pararíamos na “farmácia popular”, e compraríamos o complexo B. De manhã, pegamos o carro, e uns funcionários do hotel pediram carona até a cidade, subimos todos no carro, eu, o italiano e 3 locais. Paramos na farmácia popular e o italiano, não querendo sair do carro, pediu a um dos angolanos que entrasse na farmácia e comprasse o complexo B para ele. Devo dizer que aquilo me incomodou, me pareceu uma forçada de barra.. O carinha volta, diz que custa 350 Kwanzas e o gringo lhe dá 700 e pede 2. Volta ele com duas cartelinhas mixas de Complexo B, e toca para o trabalho. Aquilo me pareceu caro demais, quase 10 dólares… Mas tudo bem…
De tarde, fui ao supermecado e na volta fui comprar cartão telefônico a pedido do pessoal do trabalho. Aqui, há umas lojinhas pela rua, com plaquinhas dizendo “vendo cartão”. Mas são construções em barro, em madeira, dá até medo entrar! Meu motorista saiu para comprar os cartões, e eu, a diferença do italiano, o acompanhei. A lojinha era uma pequena farmácia, com uma senhora vestida de branco no balcão, mas por fora não dava para ter idéia do que diabos fosse!. Compramos os cartões, e por curiosidade perguntei se tinha complexo B. Me deu uma cartela, exatamente igual a que tínhamos comprado pela manhã. Perguntei o preço : 30 kwanzas! Comprei duas cartelas, levei para o gringo que só faltou arrancar os bigodes de raiva! O italiano mais “angolano” do grupo tinha acabado de reconhecer que fora embrulhado pelo carinha… E acho que a raiva foi tanta também porque deve ter se dado conta que, nestes anos todos de Angola, deve ter sido enrolado centenas de vezes! Mas pelo menos, se tomar o complexo B de 10 dólares, afasta os mosquitos!

Jantar de natal

Todo dia, quando janto, eu janto no Residence. Não que haja escolha, ali por perto não tem nada de confiável. O preço é salgado para os padrões do Rio de Janeiro, a refeição sai US$10, mas é uma pechincha para Luanda. E não chega nem aos pés do bom esquimó. Pouca comida, já sei porque este povo é magrinho…
Na noite do dia 24, nos ofereceram um jantar especial. Montaram uma mesa ao aberto, enfeitaram tudo com luzinhas, e fizeram uma mesa de doces, com bolo de banana, uvas passas, nozes, etc… Tudo muito bonitinho, feito com boa vontade… E a janta foi Bacalhau com Grão de Bico. Devo confessar que comi o bacalhau por educação, porque nunca tinha comido um bacalhau tão chinfrim… Era engraçada esta mesa, com os 4 italianos, eu e dois mineiros do Brasil, um português do tempo de Angola colônia, e 2 angolanos que trabalhavam pro “gajo”. Todos comendo, quietinhos, com cara de quem fingia gostar do prato, para não ofender o povo do Residence… Vocês devem entender que aqui, não há muita escolha. Eu chamo o lugar de Residence, de hotel, mas é na verdade uma casa adaptada a receber hóspedes, com um serviço praticamente inexistente, bem simplesinho mesmo! Não tinha nem condições de reclamar!
Acabamos de comer, o pessoal do hotel foi pro seu canto, e aí começou uma guerra pela sobremesa, que efetivamente estava boa! Foi uma loucura… Pratos comr estos de bacalhau e grão de bico por toda parte, para limpar na manhã seguinte… Mas nem um farelo de bolo de banana, uva passa, etc…
Que ceia! 🙂

Sabado morto

Todos os sábados eu tenho como obrigação participar de uma reunião com o cliente e os outros principais fornecedores para relatar o andamento de uma das nossas obras. Nesta em particular nosso traabalho já se encerrou, e minha participação é mais para verificar o andamento dos trabalhos das outras empresas. Geralmente estamos presentes nós, uma empresa chinesa, responsável pelas obras civis, uma empresa brasileira, responsável por parte do projeto e pela fiscalização do andamento das obras, e por uma empresa portuguesa, que é responsável por algumas poucas obras de “acabamento”, como canaletas, sarjetas, e portões. Nós fornecemos principalmente equipamentos e somos responsáveis por uma parte do projeto, elaborado com tecnologia italiana. Além de nós, fornecedores, estão sempre presentes autoridades angolanas, chefe de polícia, pessoal do exército, e gente da empresa estatal que nos contratou.
Havia eu já preparado algum material para poder seguir a reunião com algum conhecimento de causa, já que sou bicho novo na área, mas a reunião foi adiada. Apesar de ser onde judas perdeu as botas, eu estava doido para ir na reunião, afinal é uma quebra de rotina, chance de ver paisagens novas, e conhecer gente nova. Com isso tive que vir ao escritório, e hoje, perto do natal, não há praticamente nada para fazer.
Mesmo a Internet resolveu não funcionar. Não sei quando este e;mail será postado, mas o estou escrevendo no sábado, 23 de dezembro. E não é só a internet. Parece que deu uma pane em Luanda. A rede de celular da Unicel caiu, e desde ontem, telefonar e receber chamadas se transformou em uma tarefa hercúlea. A rede fixa e à rádio também está instável. O trãnsito está mais infernal do que o normal, todo mundo comnprando presentes de natal, a cidade em polvorosa. Para ir ao centro se demora 2 horas parado no trãnsito. E começou a faltar água. Por sorte no Residence temos uma cisterna grande, e devemos ter água sem problemas até depois do natal, quando a situação tende a se normalizar.
Agora vou tentar ir ao supermercado comprar algumas coisitas para casa e também para o escritório. São 10:30 da manhã de sábado dia 23… Se voltar antes das 14:00, acho que já vai ser lucro!

Coisas de Angola – Um Assalto

Tenho um colega italiano que tem 10 anos de Angola. A maior parte deles no período de guerra. Se vangloria de ser quase angolano, de conhecer Luanda de ponta a cabeça.
Pois ontem ele teve um dia de cão! Ao sair do hotel, dirigindo para o trabalho, foi parado pela polícia. Com seu português macarrônico o guarda parece que não entendeu nada do que ele falava e se irritou. Mostrou os documentos do carro, a carteira de motorista, blá blá blá… E o guardinha, depois de algum tempo, contemporizou, mas pediu “ uma gasosa”, quem em bom angolano, corresponde à brasileiríssima cervejinha”. Morreu em 10 dólares, e todos amigos.
Chegou no escritório, contou a história rindo da sua astúcia de ter perdido só dez dólares. Tomou um pouco d’ água e partiu para a cidade. Seu trabalho consiste em treinar um time de angolanos no uso de uma máquina “mata-mosquito”. Ele deve ir pelas zonas pobres da cidade, pelos favelões, e mostrar como pulverizar potenciais focos do mosquito da febre-amarela com as máquinas. O dia correu bem, caiu a noite, entrou no carro com motorista e veio em direção ao escritório.
Ainda dentro da favela, no bairro da boa-vista, em meio a um engarrafamento, resolveu abrir a janela do carro para pedir passagem aos carros. Em menos de 1 minuto 3 caras apareceram, destravaram o carro, abriram a porta sob protestos do italiano e do motorista, meteram-lhe a mão no bolso e roubaram celular e pen drive. Deu sorte, já que no outro bolso estava sua carteira, e os caras não se tocaram! Mas na brincadeira rasgaram a calça do italiano. O cara ficou passado. Eu já estava no Residence, esperando ficar pronta a janta (ontem foi corvina frita), quando chega ele esbaforido… Ele está morrendo de medo de voltar às favelas daqui.
O que aconteceu a ele, vem acontecendo a várias pessoas, angolanas ou não. Aqui, a diferença do Rio, as pessoas não vivem na cultura do medo. Por isso, andam com os vidros abertos e as portas dos carros destrancadas. Acham que nunca acontecerá com elas. Mas para quem conhece a violência e o crime com intimidade, e para isso bastar morar na cidade maravilhosa, Luanda é pinto. O pessoal do Residence comentava: “ Em dezembro já houve uns 5 ou 6 casos desses!” . Cinco ou seis em 1 mês tá é bom demais!

Pára-raios de Maluco!

Aqueles que me conhecem sabe que eu sempre fui um excepcional pára-raios de malucos. Parece que até em Angola essa minha característica se mantém ativa. Outro dia vi no restaurante do Residence, um Angolano branco, o primeiro! E ontem, durante a janta o cara começou a puxar papo comigo e com o colega italiano na mesa. Não fomos mal-educados, e deixamos o tipo falar. Engatou a terceira e começou a falar da Angola da sua infância, de antes da independência. Era português, mas fora para angola aos 2 anos de idade, e se considerava angolano. Era um nostálgico. Eu e meu amigo praticamente não falamos nada, ficamos no hum-hum, claro, sei… E o homem disparou a falar de Salazar, que era tão bom, que o Partido Comunista Português era o grande “ culpado” pela independência de Angola. Falava de Luanda de quando era a cidade mais européia da Africa, o que foi verdade, mas já se vão 30 anos!

Em um ambiente só de negros, sendo nós três os únicos brancos, começou a dizer que não era racista, mas inter-cortava sempre suas frases com conteúdos que diziam do tipo : “ Não fossem os negros tomar o poder e Angola seria o Brasil da Africa…” . Não é o racismo que nós no Brasil conhecemos, onde há quem acredite realmente que há raça melhor que outra. É algo mais sutil, como que a consciência de sermos todos iguais, mas mesmo assim ter raiva dos negros, por considerar que com a independência “roubaram” os bens dos portugueses em Angola.

Não entro no mérito de quem está certo ou errado, não é minha pretensão em uma semana entender um país tão complicado! E sei lá, esse lugar é novo pra mim, não quero saber de política, só vai me botar em saia justa! Mas o problema era o cara falando na nossa orelha. Depois de uns 10 minutos de conversa eu pedi licença, o italiano se juntou a mim e vazamos. O cara ainda quiz marcar pra continuar a conversa no sábado… Acho que foi a primeira vez que fiquei contente de trabalhar no sábado!

Coisas de Angola

Hoje para minha surpresa dois fatos insólitos aconteceram!
Quando chegamos ao escitório, do lado de fora da porta, havia uma quantidade imensa de vermes! Isso mesmo, vermes que nem aqueles que comem defunto! NOJENTO! 🙂
Não é uma coisa normal, me disseram. Parece que os angolanos mesmo nunca tinham visto os bichos por ali. O responsável montou uma equipe para limpar o pátio (que é bem grande, do tamanho de uma quadra de futsal). O pessoal começou varrendo o pátio e eu entrei no escritório. Depois de um tempo ouço uma algazarra, e pensei que eram os caras com nojo dos bichos, algo assim… Saio para ver e vejo o grupo se divertindo, esmagando os vermes. Juro que quase vomitei! Logo chegou o chefe dos caras, passou um sabão e eles voltaram a varrer, mas o chão ficou cheio de umas marcas de vermes mortos…. MUITO NOJENTO!
Desde ontem que tento me conectar à internet e não consigo. Isso é bem normal por aqui, como já disse! Mas nunca tinha ficado tanto tempo sem nem conseguir uns 5 minutos de conexão. O normal é esse, 5 minutos e cai… Mas desde onte, conectava e caía. Liguei pro provedor para pagar uma geral nos caras! E sabe o que me disseram? Acabaram os créditos! Não acredito nisso! A Internet aqui é pré-paga! PQP! Essa é pior que o Caviar, eu nem nunca tinha ouvido falar!
Quando comprar créditos provavelmente voces recebem este post!

Abração!