Bonecas Angolanas

Desde que cheguei aqui, encontrei um movimento estranho no Residence. Uma série de caminhões chegavam, muitas vezes tarde da noite, e descarregavam caixas e mais caixas em um depósito dentro do hotel. Como não queria sarna para me coçar, eu não perguntei nada a ninguém, mas fiquei com a pulga atrás da orelha. O que seria aquilo, afinal? Coisa boa não parecia… Chegavam sempre no meio da noite, lá pelas 21:00, decarregavam caixas e mais caixas. Foi assim desde que cheguei, mas semana passada o movimento se inverteu.
Agora as caixas escoavam do Hotel para caminhões, com destino desconhecido. Dizem que quando não se tem nada para fazer pensamos sempre bobagem. Pois depois do trabalho, naquele hotel, não tem nada para fazer… E eu vendo as caixas indo embora…
Uma noite, curioso, como quem não quer nada, me cheguei para os lados de onde saiam as caixas. Na porta do depósito havia uma brecha, e mesmo estando escuro, olhei de relance e levei um susto! Eram caixas de bonecas! Bonecas de plástico, grandes, negras, com um sorriso na cara! O que diabos este trafico de bonecas significava eu não sabia, mas agora eu ao menos sabia que o que entrava e saía eram bonecas… Será que haveria alguma coisa estranha dentro delas?
Fiquei ressabiado, mas fiquei quieto. Na África há uma quantidade enorme de fraudes, contrabando e esquemas ilícitos, e eu não tenho nada com isso. Podiam estar traficando cocaína, diamantes, sei lá o que! Mas no dia 23 tudo se esclareceu…
Era sábado, e por isso fomos para o Residence mais cedo. Sentei na beira da piscina, perto da gerente, que conversava com um dos funcionários, exatamente sobre as bonecas. E vi que eu estava mesmo era fantansiando… A dona do Residence é uma jornalista famosa em Angola. Está todo dia na TPA, o canal de televisão estatal. Uma Fátima Bernardes daqui. Como não é boba nem nada, resolveu tirar partido da fama e encomendou, do Brasil, alguns containers de bonecas feitas à sua feição, e contratou uns ambulantes para vender a dita cuja pro Natal. A boneca da dona virou uma febre de consumo entre a classe média de Luanda, e as bonecas saíram que nem água… Tanto que no dia 23, tinha gente pagando quase 100 dólares por cada uma…
Cabeça vazia, casa do capeta, já diziam os antigos!

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