No domingo de natal, fiz uma rápida visita à ilha de Luanda. Passamos de carro e voltamos para o residence, mas pude ter uma idéia do que é a ilha.
Antes de tudo é preciso explicar que a ilha não é uma ilha. Quando os Portugueses chegaram a Luanda, encontraram a Baía de Luanda, que tem um quê de parecido com a Baia de guanabara, apesar de menor. Durante o período de colônia, foi criada artificialmente uma “ilha”, separada de Luanda por uma pequena ponte. Hoje o canal abaixo da ponte assoreou, e na verdade o que há é uma “restinga” de Luanda.
Imagine que o Rio ficasse sem nenhuma conservação por 30 anos. Ruas esburacadas, desordem urbanas, favelas nas areias das praias, construções irregulares dentro de parques públicos… Com esta imagem na cabeça, podemos começar a entender a situação atual de Luanda, e a ilha não é diferente.
Apesar da ilha ser o “point” dos luandenses de dinheiro, e muitos expatriados, está muito longe de ter uma infra-estrutura de primeiro mundo. Gasta-se em média 200 a 300 dólares por noite em boates na ilha. Há carros de valores de centenas de milhares de dólares circulando pela ilha. Mas ao mesmo tempo a “praia” foi invada em vários pontos por barracos, o parque da cidade, um bosque no meio da ilha, perdeu as grades, e em meio às árvores, várias pequenas construções de madeira surgiram, com famílias enormes morando nelas. A pobreza, maior que em muitas favelas, transportadas para as areias da praia, ao lado das boates mais caras.
Ouço dizer das pessoas que as coisas estão melhores hoje que no tempo da guerra, que agora a ilha está ganhando de volta o brilho de outrora, com construções novas de clínicas, casas de luxo, hotéis e prédios de apartamentos. Realmente nota-se que não só a ilha, mas toda Luanda está se reconstruindo, regenerando das cicatrizes da guerra de 30 anos. Mas há uma grande parcela da população excluída que parece ser os quelóides das cicatrizes, quelóides que não deixam que se esqueça que eles ainda precisam ser incluídos neste novo país que Angola aspira ems ser, um novo Dubai da áfrica subsaariana.
E no meio deste mistura, deste contraste, entre os esnobes muito ricos, e os pobres maltrapilhos, caio eu, e me parece que Luanda é como se fizéssemos um extrato do Rio de Janeiro, picássemos o que sobrou e puséssemos os pedaços em um saco, embolando tudo, e os jogássemos desordandos em um tabuleiro, trazendo pedaços de Caxias ao Leblon, de Ipanema no Borel, das Paineiras no Praça Mauá. E no meio da ilha de Luanda, surgisse um BobÂ’s. Isso mesmo. Há um BobÂ’s na ilha de Luanda. Mas esta vou contar depois!
PS: Fico muito agradecido pelas visitas, que estão sempre aumentando, desde que cheguei em Angola e desejo a todos um ótimo ano novo! Aos amigos do Rio, em especial, abracem a cidade maravilhosa de coração, mesmo com as confusões que tem acontecido. Não se deixem abater!
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