Fome de leitura

Nesta minha estadia angolana, há muito pouco a se fazer fora do escritório. Eu ainda dependo de motoristas para me locomover, visto que ainda não tenho uma carteira de motorista angolana. E mesmo que tivesse a carteira de motorista eu ainda assim não é que tenha muitas opções, vistos os preços absurdos de tudo. Claro, preços absurdos cobrados aos estrangeiros, mas não me sinto ainda confortável em entrar em um botequim angolano e pedir uma média com pão e manteiga, se é que vocês me entendem. E ainda mais morando fora de Luanda, no município de Cacuaco, onde às 21:00 todas as pessoas de bem já estão dormindo e roncando. Depois do escritório é só tédio e ócio.
Já havia intuido que isso aconteceria antes de sair do Brasil. Levei para o aeroporto uma coleção de Machado de Assis, que me teria feito ótima companhia, mas a TAAG implicou com o peso da bagagem de mão e os livros foram sacrificados. Sendo assim, após o check-in, entrei em uma lojinha e comprei dois livros: Elite da Tropa e Raízes do Brasil.
Elite da tropa devorei em 5 dias. Interessantíssimo o livro! Vale a pena. E Raízes do Brasil também foi embora com certa rapidez. Fiquei sem o que ler em menos de 20 dias. Que agonia! Precisava achar uma livraria!
Numa tarde mais tranquila, Tony, meu motorista, me levou ao centro da cidade, atrás da Marginal (uma vaga lembrança da avenida Atlãntica, para situar vocês), na livraria Lello. A livraria, de fora uma loja grande, era escura e empoeirada, trazia o cheiro de outros tempos. Não havia muita escolha, algumas prateleiras cheias, algumas com livros americanos traduzidos em poruguês luso, outros tantos livros uinversitários (inclusive o Samuelson, caros economistas!), uma coleção de Jorge Amado, alguns clássicos portugueses, os livros de Dan Brown e uns poucos autores contemporãneos. Não achei nada sobre a história de Angola, sobre a cultura angolana, sobre a culinária daqui, nada… No máximo alguns livros de turismo sobre a África. Sabe quando você está seco para tomar café, e quando consegue uma xícara de café ele vem ralo como água suja? Posso dizer que me senti assim nauela livraria…
Acabei por comprar um clássico português, “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queiroz e um livro do também português António Lobo Natunes, com o título “DÂ’este viver aqui nesta papel descripto – Cartas da Guerra”, que é a correspondência entre o autor e sua espoas, nos anos de 1970/1971, quando o autor servia no exército português em Angola, durante a guerra colonial. Parece bem interessante. Vou conhecer um pouco de Angola pelos olhos de um português que nunca antes tinha pensado em sair de Portugal e se aventurar na colônia, mas recutado para uma guerra por um governo ditatorial…
Como sempre faço, pedi desconto pelos livros, que custam um absurdo por estes lados! Não consegui desconto, mas saí com um “brinde”, um livro grátis! Assim que conseguir escaneio a primeira página do livro, que nada mais é que um conjunto de contos iraquianos de amor, de autor anônimo, mas atribuídos a ninguém mais, ninguém menos que o falecido Saddam Hussein! Por essa nem eu esperava!

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