Um problema do meu apartamento aqui na Tunísia sempre foi assistir televisão.
Aqui só há dois canais do que nós no Brasil chamamos de TV aberta. E não existe nenhum tipo de serviço de televisão por assinatura, tipo NET ou DirecTV.
A única opção que nós temos é comprar uma parabólica e um decoder e assistir aos canais “abertos” de algum satélite, como o HotBird ou NileSat. Quando aluguei o apartamento já havia instalado um conjunto de antena-decoder, mas o canais bons do HotBird são todos bloqueados. Há algumas mutretas para desbloquear os canais, as como não conheço nenhum técnico de confiança, deixei para lá. Limitado a tele-sexo e canais romenos e árabes bizarros, fiquei sem ver TV bastante tempo.
Um tempo depois descobri que alguns italianos da empresa trouxeram decoders da Sky Italiana, e funcionou aqui, pois a Sky usa o satélite Hotbird. Sabendo disso, comprei um decoder da Globo Internacional, que também faz uso do Hotbird, e fiz a assinatura. Como não há representante da Globo aqui, encomendei da Itália com a promessa que chegaria aqui em 2, no máximo três dias. Ia ser legal, poder ver uns jogos de futebol e quando minha querida esposa estivesse aqui ela poderia seguir a novela, saber o que acontece na Fazendinha, coisa e tal…
O decoder chegou em três dias sim, mas demorou mais de dois meses para conseguir que chegasse até a minha casa, devido a problemas com a alfãndega.
Primeiro foi mandado de volta para a Itália pois faltava uma declaração que o decoder não seria usado para fins militares. alguém por favor me explica isso, como assim um decoder de TV sendo usado para fins militares? Será que em algum episódio do Magaiver ele faz um deoder se transformar uma bomba de gás mostarda? Será que é alguma técnica que o Jack Bauer nunca me ensinou? Vai saber…
A empresa italiana fez uma carta, traduziu em francês, e mandou do novo o decoder. O correio acusava o recebimento na Tunísia, mas o aparelho sumiu. Depois de um mês procurando como um doido, ligando para o correio tunisiano e para o correio italiano, para a alfãndega daqui, acendendo vela e pedindo pra São Longuinho, acabei por descobrir o que acontecera com o Decoder.
Como o endereço de entrega era na empresa, o aparelho foi parar (não me perguntem como!) no despachante da empresa, que começou um processo de importação pelo qual queriam me fazer pagar 3 vezes o preço que eu paguei pelo aparelho! É claro que mandei devolver o troço para a Itália.
Avisei a empresa que me vendeu que o produto iria voltar para eles, que deixassem lá que eu arrumaria alguém para buscá-lo em Roma. Depois de uma semana o cara me liga e diz que o troço não tinha chegado. Devo admitir que já tinha considerado o aparelho perdido e me resignado a não ver TV.
Passa mais uma semana e me ligam da minha empresa em Milão. Um pacote com meu nome tinha chegado lá, se deviam mandar para a Tunísia. Pedi para o cara abrir, e era o bendito decoder. Falei para ele deixar lá, que alguém iria buscá-lo para mim.
Depois de todas as tentativas legais frustradas, acabei por conseguir trazer o decoder de “contrabando” na mala de um colega. O decoder bendito que me deixa ver Globo Internacional! Liguei para a Globo, dei o cartão de crédito, efetuei a assinatura! Em cinco minutos, estava tudo funcionando! Viva! Gente falando em português! Isso já faz uns meses e no início foi só alegria!
Essa alegria todo durou pouco, só até eu concluir que a programação da Globo Internacional é uma boa merda. Novela 80% do tempo, VTs de jogos de campeonatos que não assisto, não passa jogo do Brasil e o Fantástico é segunda a noite. FANTÃSTICO SEGUNDA A NOITE! E agora então com o Big brother Brasil, está insuportável… Toda hora tem chamada, quem vai ser o líder, quem vai sair, que saco Bial!
Além de todo o problema para trazer o decoder, havia ainda um problema com meu apartamento. O cabo da antena parabólica saía do teto da varanda e para entrar em casa precisava passar pela porta da varanda. O resultado mais prático disso é que para ver televisão a porta da varanda tinha que estar entreaberta, e no inverno o vento frio faz o ato de assistir qualquer programa em um inferno gelado.
Semana passada a persiana das janelas da varanda começou a dar problema. Na verdade já fazia tempo que a persiana não funcionava direito, desde o dia em que eu fiquei trancado do lado de fora de casa e precisei pular da janela do vizinho até minha varanda e “arrombar” a persiana. Não entro em detalhes, mas imaginem a cena ridícula de um gordo pendurado num prédio tentando pular de um apartamento para o outro.
Voltando à persiana, neste domingo ela morreu. Depois de caçar quem tinha instalado a persiana para o dono do apartamento, o que também não foi fácil, consegui marcar uma visita para hoje DE MANHà. Chegaram dois operários em casa, às DUAS da tarde, para consertar a persiana. De primeira não botei fé nos caras, que não falavam francês, só árabe. Mas eles me surpreenderam. Conseguiram consertar o problema em menos de 40 minutos.
Quando os caras viram o cabo da antena, entendi através dos gestos deles e de algumas palavras em francês pescadas nesses dialeto louco que se fala nessa terra, que se propunham a resolver meu problema com a antena. A idéia era fazer um buraco em uma placa de madeirite “fantasiada” de parede, que faz parte do conjunto da persiana.
Eu aceitei, e os caras furaram a madeirite à unha, com uma chave de fenda, já que não tinha furadeira. Coisa de doido, o cara suava feito louco, rodando a chavinha para fazer um buraco capaz de fazer passar por ali um cabo coaxial! A cena era meio esdrúxula, estranha mesmo, mas acabou que conseguiram fazer o buraco, deu certo passar o cabo e me resolveram este problema também. Duro foi entender em árabe quanto eles queriam pelo seviço.
Depois desta pequena epopéia posso ver televisão quentinho. O único problema é que NUNCA passa alguma coisa boa nesta bosta de Globo Internacional. Na hora que chego em casa está passando A Casa das 77 bruacas pela enésima vez. Quando acordo tá passando uma versão modernosa de telecurso segundo grau.
É, bem que me avisaram que não se pode ter tudo na vida.
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