Tenho um colega italiano que tem 10 anos de Angola. A maior parte deles no período de guerra. Se vangloria de ser quase angolano, de conhecer Luanda de ponta a cabeça.
Pois ontem ele teve um dia de cão! Ao sair do hotel, dirigindo para o trabalho, foi parado pela polícia. Com seu português macarrônico o guarda parece que não entendeu nada do que ele falava e se irritou. Mostrou os documentos do carro, a carteira de motorista, blá blá blá… E o guardinha, depois de algum tempo, contemporizou, mas pediu “ uma gasosa”, quem em bom angolano, corresponde à brasileiríssima cervejinha”. Morreu em 10 dólares, e todos amigos.
Chegou no escritório, contou a história rindo da sua astúcia de ter perdido só dez dólares. Tomou um pouco d’ água e partiu para a cidade. Seu trabalho consiste em treinar um time de angolanos no uso de uma máquina “mata-mosquito”. Ele deve ir pelas zonas pobres da cidade, pelos favelões, e mostrar como pulverizar potenciais focos do mosquito da febre-amarela com as máquinas. O dia correu bem, caiu a noite, entrou no carro com motorista e veio em direção ao escritório.
Ainda dentro da favela, no bairro da boa-vista, em meio a um engarrafamento, resolveu abrir a janela do carro para pedir passagem aos carros. Em menos de 1 minuto 3 caras apareceram, destravaram o carro, abriram a porta sob protestos do italiano e do motorista, meteram-lhe a mão no bolso e roubaram celular e pen drive. Deu sorte, já que no outro bolso estava sua carteira, e os caras não se tocaram! Mas na brincadeira rasgaram a calça do italiano. O cara ficou passado. Eu já estava no Residence, esperando ficar pronta a janta (ontem foi corvina frita), quando chega ele esbaforido… Ele está morrendo de medo de voltar às favelas daqui.
O que aconteceu a ele, vem acontecendo a várias pessoas, angolanas ou não. Aqui, a diferença do Rio, as pessoas não vivem na cultura do medo. Por isso, andam com os vidros abertos e as portas dos carros destrancadas. Acham que nunca acontecerá com elas. Mas para quem conhece a violência e o crime com intimidade, e para isso bastar morar na cidade maravilhosa, Luanda é pinto. O pessoal do Residence comentava: “ Em dezembro já houve uns 5 ou 6 casos desses!” . Cinco ou seis em 1 mês tá é bom demais!
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