A Boulangerie, o Ladrãozinho e o Salon du Thè

Em baixo do meu prédio há duas lojas.

Uma é uma Boulangerie , a outra o ladrãozinho. Ladrãozinho é um termo carinhoso que eu uso para qualquer mercadinho fuleiro, que fica perto da sua casa, onde você pode comprar de beiscoito a desodorante por um preço 5 vezes mais caro que no supermercado. No Rio de Janeiro as duas lojas seriam uma só: a padaria.

Na Tijuca há até hoje a Padaria Primo Basílio, e minha mãe até hoje reclama do preço abusivo do presunto lá. Ganharam tanto dinheiro vendendo víveres superfaturados que abriram um restaurante a quilo no andar de cima. No Recreio há a Padaria do Barra Sul, que entrega em casa. Sobrecarrega no preço, mas te entrega sem cobrar por isso, mesmo que você peça só 2 pÃ¥es! Você telefona às 8 e o pão chega murcho às 9 e meia, mas é de graça! No Rio todo tem esses ladrãozinhos, e já os vi ativos também em outras cidades, deve ser generalizada essa prática pelo Brasil…

Mas voltando à Tunísia…

A padarie, quando cheguei aqui, me parecia linda. Novinha em folha, eu ia todo contente comprar aquelas baguetes quentinhas, uns doces bonitos de chocolate, tortas, guloseimas em geral. Todo dia passava lá para comprar um croissant de manhã, e levava para comer no escritório. Nos dias bons levava um saco com 10 e fazia a festa do pessoal de lá, que comia croissant de graça.
Passou-se mais de um ano e o serviço decaiu. O pão ficou meio xumbrega, os doces diminuiram de tamanho, foi ficando mais caro e o lugar mais sujo. Mas os caras só me perderam como cliente quando descobriram que eu sou brasileiro.

Agora é só eu entrar na fila e cada funcionário que me vê diz em voz alta “Bonjour Bresilien!”. Aí a arabada toda no estabelecimento invariavelmente olha para minha cara, afinal eu sou ser mais exótico do planeta, sou brasileiro…
Deixei de ir lá, cacilda! Cansei daquele sentimento de que a velha na minha frente na fila vai chegar em casa e dizer ao netinho, “meu filho, hoje eu vi um brasileiro, e o pior de tudo, era branco!”.

Sim, os árabes daqui tem certeza absoluta que no Brasil só há negros, que todos jogam futebol na Europa, são infiéis e andam pelados no carnaval. Pelo menos os que frequentam a padarie.

Fiquei meio bronqueado com a padaria, e resolvi passar a tomar o mata-bicho no Salon du Thè. O nome é chique pacas, mas nada mais é que um botequim sem álcool. Tão sujo quanto. Só que o garçom que te traz o café e o croissant não chega nem aos pés dos nossos quando nos trazem um pão na chapa e um pingado. Mas tudo bem, pelo menos não gritam “Bresilien”, cada vez que me vê!

C’est la vie, mon ami, c’est la vie….

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