Isso mesmo. Olha a placa na porta do elevador:
Welcome to KSA!
Este camelo esteve longe, um ano no Kuwait e dois na Argélia e sem disposição para escrever.
Estou em pouco tempo me mudando novamente, agora para a Arábia Saudita. Aparentemente a empresa gosta de mim somente em países árabes, me mandar para perto de casa nem passa pela cabeça dos chefes!
Neste momento estou em Al Khobar, vim para cá numa viagem preliminar para conhecer o ambiente onde provavelmente passarei os próximos dois anos.
A grande notícia é que desta vez estarei acompanhado da minha esposa e dos meus pequeninos. Sim, além da Sofia, nascida em 2009, o Frederico chegou em 2011. E finalmente vou poder curtir a família reunida, já que nos últimos cinco anos vivi como um peregrino, sempre longe deles.
Espero recomeçar a receber a visita de vocês no Blog, assim que começar a escrever com mais constância.
See you!
Bem, o blog está de novo no ar, mas todo o conteúdo passado está com problemas de acentuação. Não sei quando ou se terei tempo para resolver o problema.
Infelizmente todos os comentários, tags, categorias, resenhas de livros e outras informações não podem ser recuperados com facilidade. Eu tenho ainda a base de dados original, mas o processo de recuperar os dados não é trivial.
**UPDATE** – Boa parte do conteúdo está completa novamente. Espero que os problemas tenham acabado.
A boa nova chegou! Vou ser papai de uma menina, Sofia! Que alegria!
Desde que cheguei no Kuwait sempre fui de um lado para outro de carro, com algum colega ou com o motorista. Eu não tenho carro aqui (pelo menos por enquanto) e isso acabou por me deixar a mercê dos resturantes da vizinhança, que não são poucos. A maioria é de comidas asiáticas e eu considero meio agressivo começar em um novo país com o risco de piriri. Me sobraram o Pizza Hut e o Burger King. Nos últimos dias eu tinha me virado com o que comprei no supermercado, mas ontem foi um dia cansativo e me deu vontade de comer um bifão estilo Outback.
Sem carro e sem conhecer a cidade, eu e um colega do Turquemenistão (em turcomeno Türkmenista) resolvemos nos aventurar em um shopping só de restaurantes que vimos quando voltávamos do escritório.
Já na rua fizemos sinal para um taxi que vinha em alta velocidade. Quando nos viu o motorista fez uma lambança daquelas: freiou como um louco e quase levou uma trombada do carro que vinha de trás. Eu e o colega entramos no taxi, meio ressabiados, e um garoto novinho, paquistanês, estava dirigindo. Explicamos meia boca onde era o lugar, mas ele nos olhava intrigado, meio sem entender nada… Fizemos sinal para ele seguir e explicamos com gestos onde ele deveria ir (apesar de não termos certeza onde era!). Depois de rodar como peru bêbado por uns 20 minutos conseguimos chegar em um restaurante, que não era no lugar onde queríamos ir, mas que entrava no estilo Outback, o Chilli’s. O taxista cobrou o que quis (não pelo taxímetro, que nem ligava), e pagamos mesmo tendo uma vaga impressão de estarmos sendo carcados.
Jantei muito bem, um suculento bife com milho e legumes, mas fiquei abismado com o preço salgado. Aparentemente tudo no Kuwait custa muito caro, e comida pelo menos o dobro de que no Brasil.
Quando saímos do restaurante ficamos esperando passar um taxi. Estávamos criando raízes depois de 20 minutos no frio (fazia 12 graus), quando passou um ônibus, e decidimos entrar. O engraçado foi que o turcomeno saiu batido da entrada do ônibus para as cadeiras do fundo, e me deixou pagando ao motorista as passagens. Dentro havia passageiros com cara de filipinos, indianos e uns árabes, mulheres cobertas e não, um pouco dessa mistura de gente que vive aqui. Mas os únicos com cara de ocidentais éramos eu e o turcomeno, que tem toda a pinta de russo, louro branquelo de nariz inchado.
Eu fiquei em pé na frente, perto do motorista e da porta, pois não sabia o trajeto do ônibus, só que ia para os lados de casa. Assim que visse algo de conhecido, algum ponto de referência ou o prédio, sabia teríamos que pedir para parar. Mas o cara foi lá pro fundo e ficava fazendo sinal para que eu fosse pra lá, e eu fazendo mímica para que ele viesse pra frente. O ônibus inteiro ficou olhando pra gente como se fossemos dois alienígenas. Foi uma sensação desconfortável. Depois de um tempo uma filipina com a filhinha começou a cochicar com outra numa língua incompreensível e se danaram de rir de nós. Eu queria desaparecer, não entendia o porquê, mas sentia que estava pagando um mico danado.
Logo chegamos bem em frente ao nosso prédio, e no próximo ponto eu saltei. Lá veio o cara todo esbaforido, correndo para a porta do meio. Saiu e me passou um sabão, dizendo que eu tinha que ir para trás com ele pois o ônibus aqui tinha divisão, mulheres na frente e homens atrás, devido a alguma lei muçulmana. Fiquei encucado, pois não tinha lido em lugar nenhum essa regra, eu sei que há países árabes assim (e mesmo alguns asiáticos), mas aqui no Kuwait me parecia novidade. Afinal homens e mulheres frequentam os mesmos restaurantes, shoppings e escritórios. Há gente de tudo quanto é nacionalidade e religião. As únicas regras explícitas que remetem ao Islã é a proibição ao álcool e à carne de porco. Mas realmente o povo nos tinha olhado estranho.
Hoje perguntei a um filipino que mora aqui há alguns anos e ele me confirmou que essa divisão não existe. E me disse que provavelmente o pessoal devia estar olhando espantado nossas mímicas. Outra coisa que é pouco normal é que falamos ao motorista do ônibus em inglês, e geralmente os habituês do transporte coletivo falam árabe ou hurdu (língua difusa entre paquistaneses e indianos). Não é normal que expatriados peguem ônibus, apesar de não apresentar perigo nenhum.
Vivendo e aprendendo… Mas se precisar sei que posso pegar o ônibus sem medo para jantar no Chilli’s!
Hoje cheguei ao Kuwait. Após uma longa peregrinação por aeroportos de três continentes desembarquei no aeroporto internacional do Kuwait onde havia já um motorista para me trazer para minha nova casa.
Estou em um apartamento quarto e sala em um hotel residência, tudo mobiliado e equipado para morar. Já estou com celular e internet (básicão – bem lentinha).
Estamos no meio do feriado do Aïd, e domingo deve ser meu primeiro dia de trabalho. Aparentemente o começo vai ser bem puxado, há todo uma infra nova sendo montada.
Estou saindo para jantar com dois colegas. Hoje tirei algumas fotos e amanhã devo tirar mais, assim que tiver algo interessante coloco aqui para vocês verem.
A saída da Tunísia foi infernal do ponto de vista logístico. Como queria passar ao menos um fim de semana na Itália para visitar alguns amigos, pedi para a empresa reservar meu vôo Milão-Paris-Rio e não Tunis-Paris-Rio. Isso evitaria que eu fizesse Tunis-Milao-Tunis. Idéia brilhante mas que na prática se tornou um prejuízo monumental.
Eu trazia comigo minha mudança, mais de 60 quilos de roupas, livros, e tralhas em geral. Na AirFrance, devido ao programa de milhagem, eu praticamente não pagaria sobrepeso, pois tenho direito a 2 malas de 30 quilos em vôos intercontinentais. Mas Tunis-Milão me dá direito apenas a 20 quilos e no máximo 60. Paguei uma barbaridade de excesso de bagagem, mais que o preço da passagem e ainda tive que abrir a mala e deixar tralhas com os amigos no aeroporto. Uma das vergonhas mais caras que já passei.
Mas cheguei em Milão e Rudy foi me buscar. Fiquei na sua casa até domingo, quando tomei o vôo para o Rio. Em Milão fui fazer compras, a começar por um iPhone 3g, uma mala Sansonite, pois a mala xumbrega que eu tinha se esfacelou no trajeto entre Tunis e Milão, e um presentinho de 1 ano de casamento para meu amor. Parece pouca coisas, mas bater perna dá uma canseira!
Sábado foi para mim um dia especial. Rudy dirigindo seu Mercedes Classe A enfrentrou 3 horas e meia de viagem comigo e fomos para Padova.
Doze anos tinham se passado desde que eu deixei Padova para voltar à pátria. Doze anos que pareceram se esvair em um segundo. Passei a tarde degustando com Pablo e Oriana, amigos remanescentes daquele período, e Rudy, os porticados, o Santo, as lembranças de um tempo mágico que não volta mais.
Essa cidade tem a segunda mais antiga universidade da Itália, fundada em 1222. Quase três séculos antes dos portugueses acharem o Brasil em Padova já se discutia de filosofia, matemática e, física. Galileu foi professor por lá. Foram os estudantes de Padova que patrocinaram junto ao Papa a canonização de Santo Antônio. Foi uma das primeiras faculdades de medicina da Europa!
A cidade cresceu, se transformou, se respira hoje um ar mais amargo, mais pesado, resultado da imigração clandestina que irrigou a Itália inteira com milhares de pessoas sem qualificação e desenterrou antigos ódios e sentimentos arraigados principalmente em cidades com tanta tradição como Padova.
Eu entendo que deve ser difícil nascer e viver em uma cidade onde tudo é transitório. Metade da população vive em torno da universidade, e a cada ano boa parte deixa a cidade e uma outra leva vai para lá. Muitos desses não tem respeito pelas tradições do lugar, usam a cidade, e apesar de serem de vital importãncia para a economia da cidade, são vistos pelos locais como bárbaros invasores.
Claro que tudo isso importa muito pouco. Minha rápida visita a Padova foi sentimental. Tantas boas lembranças, tantos aventuras e experiências voltaram a tona. Foi um mergulho delicioso no passado. Não se quando terei a oportunidade de voltar a Padova. Por isso aproveitei cada minuto ao máximo.
Mando um grande abraço aos amigos daquele tempo, que graças à Internet e principalmente ao Facebook estão retomando o contato!
A saída da Tunísia foi infernal do ponto de vista logístico. Como queria passar ao menos um fim de semana na Itália para visitar alguns amigos, pedi para a empresa reservar meu vôo Milão-Paris-Rio e não Tunis-Paris-Rio. Isso evitaria que eu fizesse Tunis-Milao-Tunis. Idéia brilhante mas que na prática se tornou um prejuízo monumental.
Eu trazia comigo minha mudança, mais de 60 quilos de roupas, livros, e tralhas em geral. Na AirFrance, devido ao programa de milhagem, eu praticamente não pagaria sobrepeso, pois tenho direito a 2 malas de 30 quilos em vôos intercontinentais. Mas Tunis-Milão me dá direito apenas a 20 quilos e no máximo 60. Paguei uma barbaridade de excesso de bagagem, mais que o preço da passagem e ainda tive que abrir a mala e deixar tralhas com os amigos no aeroporto. Uma das vergonhas mais caras que já passei.
Mas cheguei em Milão e Rudy foi me buscar. Fiquei na sua casa até domingo, quando tomei o vôo para o Rio. Em Milão fui fazer compras, a começar por um iPhone 3g, uma mala Sansonite, pois a mala xumbrega que eu tinha se esfacelou no trajeto entre Tunis e Milão, e um presentinho de 1 ano de casamento para meu amor. Parece pouca coisas, mas bater perna dá uma canseira!
Sábado foi para mim um dia especial. Rudy dirigindo seu Mercedes Classe A enfrentrou 3 horas e meia de viagem comigo e fomos para Padova.
Doze anos tinham se passado desde que eu deixei Padova para voltar à pátria. Doze anos que pareceram se esvair em um segundo. Passei a tarde degustando com Pablo e Oriana, amigos remanescentes daquele período, e Rudy, os porticados, o Santo, as lembranças de um tempo mágico que não volta mais.
Essa cidade tem a segunda mais antiga universidade da Itália, fundada em 1222. Quase três séculos antes dos portugueses acharem o Brasil em Padova já se discutia de filosofia, matemática e, física. Galileu foi professor por lá. Foram os estudantes de Padova que patrocinaram junto ao Papa a canonização de Santo Antônio. Foi uma das primeiras faculdades de medicina da Europa!
A cidade cresceu, se transformou, se respira hoje um ar mais amargo, mais pesado, resultado da imigração clandestina que irrigou a Itália inteira com milhares de pessoas sem qualificação e desenterrou antigos ódios e sentimentos arraigados principalmente em cidades com tanta tradição como Padova.
Eu entendo que deve ser difícil nascer e viver em uma cidade onde tudo é transitório. Metade da população vive em torno da universidade, e a cada ano boa parte deixa a cidade e uma outra leva vai para lá. Muitos desses não tem respeito pelas tradições do lugar, usam a cidade, e apesar de serem de vital importãncia para a economia da cidade, são vistos pelos locais como bárbaros invasores.
Claro que tudo isso importa muito pouco. Minha rápida visita a Padova foi sentimental. Tantas boas lembranças, tantos aventuras e experiências voltaram a tona. Foi um mergulho delicioso no passado. Não se quando terei a oportunidade de voltar a Padova. Por isso aproveitei cada minuto ao máximo.
Mando um grande abraço aos amigos daquele tempo, que graças à Internet e principalmente ao Facebook estão retomando o contato!
Meu contrato na Tunísia acabou, depois de algumas tantas prorrogações. É hora de levantar acampamento e mancar até um outro lugar.
Sou muito sincero em dizer que a Tunísia me acolheu muito bem nestes quase dois anos de convivência. Não tenho do que reclamar.
A equipe que trabalhou comigo foi uma equipe formada por pessoas das mais diferentes formações. Tive a oportunidade de lidar com gente educada e mal-educada, ignorantes e sabichões. E acredito que tenha conseguido deixar uma boa impressão profissional a todos os que precisaram de mim neste período.
Deixei em Túnis amigos, pessoas de quem estou já sentindo falta, que me acolheram no seio de sua família, uma família linda e de conto de fadas, com duas princesinhas e tudo mais…
Saí, é verdade, muito cansado de um último período desgastante. Eu precisava de férias como de oxigênio. Precisava voltar para casa e estar com minha esposa, estar com minha família, dormir na minha cama e desligar completamente do trabalho. E estava já no último mês de saco cheio e rabugento, queria fechar o ciclo.
Mas quando começou a chegar perto da hora de ir embora, comecei a perceber o quanto eu também gostava do ambiente de trabalho, do Berges de Lac, e até do Ladrãozinho da padaria. Me dei conta que provavelmente muitas daquelas pessoas com quem criei laços de amizade iriam se perder pelo mundo, assim como eu, e que com algumas delas deixaria de ter contato.
Saí com um aperto na garganta, feliz de voltar para casa, e com a certeza de que levarei comigo boas lembraças destes dois anos.
Comentários