Liberdade de Imprensa ou Parcialidade na Imprensa?

Um recado para meus companheiros jornalistas: verifiquem os sites que acompanham a imprensa, como campaigndesk.org, mediamatters.org e dailyhowler.com. Encontrei o conceito do Daily Howler para um roteiro da mídia, uma linha que dá forma à cobertura, frequentemente contrariando as provas, o que particularmente ajuda a entender noticiários na TV a cabo.

Se quer realmente ver esses roteiros em ação, observe a convenção democrata.

TVs comerciais cobriram apenas uma hora por noite. C-Span, por outro lado, fez uma cobertura ampla, com comentários livres. Mas muita gente assistiu pela TV a cabo? e o que viu foi manipulado por um roteiro que mostrava os democratas como pessoas que odeiam Bush e desdenham dos militares.

Se soa como um roteiro escrito por republicanos, é porque é. Como o filme “Outfoxed” deixa claro, a Fox News é para todos os propósitos uma agência de propaganda republicana. Uma pesquisa mostrou que espectadores da Fox eram mais inclinados a acreditar que foram encontradas provas sobre ligações entre Saddam e a al-Qaeda.

A CNN costumava ser diferente. Mas o Campaign Desk, da Columbia Journalism Review, concluiu que a emissora ã??se dobrou à imitação das mais dúbias táticas e políticas da Fox? Segundos após o discurso de John Kerry, a CNN deu a Ed Gillespie, presidente do Partido Republicano, a oportunidade de atacar o candidato.

Os comentaristas trabalharam duro para ajeitar cenas que não se encaixavam. Na Fox, Michael Barone afirmou que delegados comemoraram quando Kerry criticou Bush, mas que permaneceram calados quando falou em força militar. Cheque o vídeo: houve comemoração quando Kerry falou de uma América forte.

Na CNN, Bill Schneider disse que, de acordo com uma pesquisa de opinião do “New York Times” e da CBS, 75% dos delegados eram a favor do direito ao aborto sem restrições, exagerando o resultado, que indica que 75% se opõem aos limites que hoje temos.

Mas o verdadeiro poder de um roteiro é o modo como ele pode mudar uma reportagem sobre o que aconteceu.

Um grupo reunido por Frank Luntz, pesquisador de opinião republicano, achou o discurso de Kerry impressionante e persuasivo. Mas um alerta de ataque terrorista já apaga as lembranças da semana passada, com um conveniente timing político. Uma vez que a calma retorne, não se surpreenda se alguns comentaristas começarem a descrever o ineficaz discurso que esperavam ver, e não o que realmente viram.

Felizmente, nesta era da internet é possível driblar o filtro. No C-span.org, você acha as transcrições e vídeos dos discursos. Estimulo cada um a ver Kerry e fazer seu próprio julgamento.

PAUL KRUGMAN é colunista do “New York Times”
Jornal: O GLOBO Autor:
Editoria: O Mundo Tamanho: 443 palavras
Edição: 1 Página: 39
Coluna: Seção:
Caderno: Primeiro Caderno

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