Estive a última semana no hospital. Mais um episódio de pancreatite. Uma doença estranha, um mal que chega sem pedir licença e sem dizer adeus, no máximo até logo. Desde a última terça-feira à noite estive com soro na veia. Saí do hospital ontem e hoje já estou trabalhando. Pelo simples medo de perder o emprego, porque melhor seria eu ter ficado em casa, descansando. Tudo pelas migalhas de dinheiro que transbordam deste empreendimento de milhões de dólares.
As pessoas aqui no trabalho parecem todas de saco cheio. Deve ser normal se sentir assim sabendo que em pouco tempo perderão todos o emprego. Uma obra é um empreendimento programado, com início, meio e fim. Eu já cheguei pelo final, faltam poucos meses, mas boa parte desse pessoal está aqui desde o início, vendo os colegas serem defenestrados pouco a pouco pela mão gélida do RH. Apesar disto, eu me sentiria infinitamente melhor em outro ambiente de trabalho. Uma rotina de merda, sem novidades, sempre o mesmo trabalho operário de conferir números sem sentido com notas fiscais e mais números sem sentido. Uma equipe que parece se detestar e um chefe que certamente comunicaria mais conosco se tivesse nascido mudo, pois ao menos seus gestos fariam algum sentido.
Eu nunca pensei, nos meus piores pesadelos que a coisa ia terminar assim, Gregório Sampsa e Zeno Cosini, mordam-se de inveja!
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