Outro dia me peguei pensando sobre a evolução da genética. Hoje os cientistas já estão conseguindo mapear o genoma, diagnosticar doenças causadas pela formação genética de cada pessoa, e explicar a causa de várias doenças e distúrbios, desde a propensão para a obesidade até o mal de Alzheimer. E pensar que cem anos atrás ainda havia quem acreditasse que um epiléptico estava dominado pelo demônio e que 50 anos atrás houve quem dissecasse judeus em prol do estudo da “raça inferior”. Quanto ao futuro desses estudos sobre o ser humano e seus genes, vejo dois caminhos a serem seguidos, em maior ou menor proporção, mais ou menos cedo. O primeiro será o de ajudar o ser humano a evitar que doenças apareçam através de um estudo personalizado de seu mapa genético. Aqueles com propensão a engordar serão orientados desde criança a evitar uma alimentação exagerada, os cardiopatas potenciais poderão se beneficiar de remédios para a profilaxia de seus males. Provavelmente haverá uma evolução mas formas de medicação, e ao longo do tempo é possível que se criem determinadas drogas que inibam a ação de um gene causador de alguma doença , aplicada no bebê, que terá efeito prolongado até o fim de sua vida. É claro que há o risco de, ao manipular um determinado gene, os resultados esperados sejam alcançados através de “efeitos colaterais”. Uma hipótese absurda é imaginar que ao se “inibir” o gene que propicia uma maior propensão à dependência em cocaína, a pessoa deixe de sentir um determinado odor, ou até mesmo lhe caiam os cabelos ou cresçam tufos de pelos debaixo das unhas! Pode ser absurdo, ou completa ignorância minha, mas não deixa de ser no mínimo assustador a hipótese de que algo assim ocorra! Consideremos porém que o mapeamento dos genes seja tão completo, e seu estudo tão profundo, que se consigam minimizar ou até mesmo evitar que estes “efeitos colaterais”aconteçam. Seria uma panacéia para a humanidade, uma chance grandiosa de que muitos dos males que estão no dia a dia do ser humano desapareçam. O segundo caminho que me parece provável é a idéia de uma engenharia genética hereditária. A pessoa vai ao médico, descobre que há a probabilidade de seus filhos terem síndrome de down. Ele se submete a um tratamento para que os genes “espúrios” sejam inibidos, e não se propaguem, evitando assim que os filhos nasçam com a síndrome, e que este gene seja extirpado das gerações futuras. Seria o fim da miopia, da caspa, da calvície, das malformações genéticas em geral. O ser humano se construiria em seus filhos, escolhendo a “perfeição genética”, gerando prole sob-medida, saudáveis, bonitas, resistentes, cada vez mais próximas do ser humano perfeito. Este me parece o lado positivo da evolução da ciência. É claro que os milhares de cientistas envolvidos nestas pesquisas ao redor do mundo tem as melhores intenções sobre o resultado de seus estudos. Mas o ser humano está longe de ser perfeito, e há a concreta possibilidade de que esta tecnologia seja restrita a apenas alguns poucos capazes de pagar por ela. A difusão das descobertas será gradual, paulatina, e desigual. O empregador poderá se informar sobre o mapa genético do funcionário, saber quais são suas características e julgar seu potencial como empregado através de seu potencial genético. Um funcionário com um gene que o deixa vulnerável à AIDS seria descartado. Discriminação genética. Não importa mais a cor da pele, a religião a geopolítica. No extremo importará apenas o mapa genético. E há inda o pior dos mundos. Uma “pausterização” genética, em busca de tornar a humanidade perfeita, nos tornará cada vez uns mais iguais aos outros. Nos fará semi-clones, com genes variados, mas apenas aqueles “autorizados” pela saúde pública. Nos tornará uma espécie menos diferenciada, menos propensa a mutações, cerceará a nossa biodiversidade genética. E ao apagar da humanidade uma série de genes, uma série de doenças correlatas a eles, poderá estar selando o fim da humanidade, pois foi a capacidade de se adaptar, a lei de Darwin, que trouxe o homem ao lugar onde está hoje na cadeia alimentar.
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